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Considerações sobre o frio - com que roupa eu vou?
#1
Com que roupa eu vou?
Vestir-se adequadamente para atividades ao ar livre é uma questão fundamental. Seu conforto será proporcional às suas escolhas. Por isso, antes de escolher que roupa usar ou levar para uma atividade é importante se informar sobre as condições climáticas locais, e ficar atento à época do ano. Os principais fatores a serem considerados são o frio, o calor, o vento e a chuva. Para cada situação há um tipo apropriado de tecido. E para otimizar sua performance, vale a pena fazer uma combinação entre eles.
Uma composição com diferentes camadas de roupa, usando tecidos específicos, deve conter três níveis essenciais: um de isolamento, um de aquecimento e outro de proteção.
Primeira camada mais próxima da pele deve permitir a transpiração, para que o corpo possa esfriar, ou seja, deixar o suor sair sem deixá-lo molhado. Durante os dias mais quentes é possível usar apenas esta camada.
A segunda camada tem a função de aquecimento, deve aprisionar o ar quente. A capacidade de um tecido manter o corpo mais aquecido que outro está ligada à sua eficiência em reter ar entre suas fibras. Quanto menos espaço houver entre suas fibras, mais quente o corpo ficará. Uma boa dica é ao invés de se usar um tecido grosso, usar várias camadas leves e folgadas de tecidos sintéticos. O resultado pode ser melhor que a de um tecido muito grosso e, além disso, pode-se ir retirando algumas camadas conforme o aumento da temperatura.
A camada externa tem a função de proteger, seja da chuva, ou do vento. Um tecido impermeável sobre as camadas de aquecimento elimina a perda de calor do corpo e protege bem o corpo da chuva.
Vários são os tipos de tecidos utilizados na confecção de roupas, alguns deles aperfeiçoados especialmente para a prática do montanhismo. Conheça um pouco mais sobre os tipos de tecidos e não-tecidos existentes:
Algodão: o mais tradicional dos tecidos é o menos recomendado para a prática de esportes ao ar livre. Apesar de ser confortável para vestir quando seco, o algodão absorve muita água. Quando molhado, leva o corpo a um resfriamento porque a água retida (seja por chuva, ou suor) tende a ser mais fria que o corpo, e na troca de calor quem perde somos nós. Além disso, leva muito tempo para secar o que o torna pouco prático.
Seda: também absorve água com facilidade, mas não tanto quanto o algodão. Por isso, seca mais rápido. Quando molhada, auxilia a esfriar o corpo através da evaporação e por isso é utilizada em locais de clima quente. Justamente por isso, não é recomendada para situações onde se quer aquecer o corpo.
Lã: é bem menos absorvente que o algodão, por isso retém menos água quando molhada. Sua espessura, geralmente grossa, permite manter o calor do corpo pois não deixa o ar sair facilmente. A lã também aquece quando molhada porque conserva sua estrutura de encapsulamento de ar. No entanto, é muito volumosa e pesada, se comparada com materiais sintéticos modernos que cumprem melhor esse papel, ocupando menos espaço e com menos peso.
Poliéster, acrílico e polipropileno: são tecidos usados em uma grande variedade de roupas de baixo e vestimentas de isolamento. Os filamentos sintéticos destes tecidos são leves, não absorventes, secam rapidamente e são também muito bons para transportar a transpiração para longe do corpo, tornando-os bem adequados para uso próximo à pele. Estes tecidos têm substituído a lã, o algodão e a seda para uso em roupas de baixo, mas têm o inconveniente de reter mau-cheiro com mais facilidade que as fibras naturais.
Pluma: é o material que permite maior aquecimento. É também o mais compressível, podendo reduzir-se a um pequeno volume. Além disso, rapidamente readquire sua maciez, e sua capacidade de aquecer, quando estendido. Estas qualidades fazem da pluma um excelente isolante para usar em climas frios. No entanto, a pluma perde todas as suas qualidades de isolamento quando molhada e é impossível secá-la nas montanhas, tornando-a uma péssima opção de isolante em climas úmidos. É comum misturar pluma com penas do ganso para não elevar muito o custo final do produto. Quanto maior a proporção de pluma, maior a qualidade do isolamento.
Pile sintético: não absorve água. Alguma umidade fica retida suspensa entre os filamentos do tecido quando está molhado, mas a maioria da água pode ser torcida. Roupas feitas de pile sintético são relativamente quentes quando molhadas e secam rápido. O pile é também muito leve e macio e por isso, peso por peso, ele aprisiona mais ar quente nos seus espaços mortos do que as fibras naturais - como a lã. Todas estas características contribuem para que o pile seja um versátil e efetivo material de isolamento. Fibras de filamentos sintéticos se acomodam quando molhadas, como a pluma. Um exemplo é o casaco Thermotex, da Trilhas & Rumos. Fabricado com um tecido tipo polar, proporciona alto índice de isolamento térmico, sendo uma boa opção para uso por baixo de abrigos impermeáveis.
Náilon: roupas de náilon são recomendadas para uso sobre as camadas de isolamento, protegendo contra o vento. No entanto, não são impermeáveis, a menos que o náilon seja resinado. O Anorak Klimax, da Trilhas & Rumos, é feito em náilon mas passa por um processo de impermeabilização e tem suas costuras seladas.
Náilon ripstop: a principal característica do tecido ripstop é dificultar a propagação de rasgos (rip = rasgar e stop = parar). Por ser extremamente forte protege do vento e de chuvas fracas. Como permitem ser costurado sem que antes se aplique uma resinagem para travar os filamentos entre si, passou a ser usado como uma proteção respirável. No entanto, também pode receber resinagens e impermeabilização. As roupas feitas com esse tipo de tecido são mais leves e menos volumosas.
Náilon resinado: normalmente usam-se resinas de poliuretano para impermeabilizar o náilon, que são leves e efetivas quando recebem a devida manutenção, mas não são muito resistentes à abrasão ou mofo. Por este motivo, algumas pessoas preferem capas revestidas com filme de PVC, pois se tornam mais duráveis, embora fiquem mais pesadas. A maioria das capas em náilon resinado mantém a chuva fora, mas fecham o suor dentro. Coberturas (resinagens) com microporos foram desenvolvidas para solucionar este problema. Os orifícios na cobertura são grandes o suficiente para deixar o vapor escapar, mas muito pequenos para que a água líquida possa entrar. Assim, as coberturas "respiram" e ainda são à prova d'água. O Abrigo de Tempo Anorak, por exemplo, é feito em náilon impermeabilizado.
Tecidos impermeáveis e transpirantes: os tecidos impermeáveis transpirantes são um progresso em relação ao velho estilo de cobertura de náilon. Conhecidos também como Gore-Tex ou Simpa-Tex, são feitos com uma trama que permite a saída do suor e bloqueia a entrada de água. Funcionam como um funil cuja abertura está virada para o corpo: permitem a saída de moléculas menores e bloqueiam a entrada de moléculas maiores. No entanto, quando expostos a grande quantidade de suor ou umidade dificultam a evaporação. O Abrigo Parkha e a calça Climatic, da Trilhas & Rumos, são bons exemplos. Feitos em tecido Dry Tech, fabricado a partir de poliamida impermeabilizada, suportam cerca de 1200 mm de coluna d’água e possuem costuras seladas.
Fibras ocas: muito utilizadas em enchimentos de casacos e de sacos de dormir, as fibras ocas são a última evolução em fibras. O sistema integrado de microfilamentos permite uma maior circulação independente do ar quente, favorecendo a retenção e o isolamento das camadas de ar. Conhecidos também como Eulin ou Microtec, são apropriados para uso em temperaturas baixas.
Considerações sobre o frio (e o calor)
O inverno se aproxima e, com ele, a época ideal de se fazer vários esportes ao ar livre, apesar deste outono chuvoso, raro para esta época do ano. Em junho temos o solstício de inverno no hemisfério sul, quando teremos o dia mais curto do ano e, conseqüentemente, a noite mais longa. O solstício define o maior afastamento do sol em relação à Terra e é quando o sol reinicia sua aproximação, chegando ao ápice no solstício de verão, que acontece em dezembro. Junto com o inverno, espera-se chegar a estação das secas, com dias de céu azul, pouca umidade e quase nenhuma tempestade elétrica. Este Dicas de Uso pretende informá-lo um pouco sobre como lidar com o frio e tirar o melhor proveito da natureza...
Alguns problemas que você poderá enfrentar e como se prevenir:
Hipotermia acontece quando o corpo não consegue mais reter o calor e a temperatura corporal abaixa muito. Isto pode acontecer em temperaturas bem acima do zero grau, não precisando de condições extremas – chuva e vento podem piorar bastante a situação.
· Prevenir é o melhor remédio, sempre.
· Fique atento para não ficar molhado por muito tempo nem exposto ao vento.
· Esteja preparado, tendo sempre bons equipamentos com você, mesmo no verão.
· Lembre-se que você não deve sentir frio para começar a se aquecer – aqueça-se ANTES. Se esquentar, depois, pode ser tarde demais...
· A hipotermia causa erros de julgamento e pode ‘aparecer’ de repente.
· Perceba o quanto antes que você está frio, molhado e desconfortável.
· Também observe sempre seus companheiros, procurando sinais de hipotermia neles também.
· Caso alguns sintomas apareçam – como tremedeira prolongada, redução de habilidades motoras, gagueira, andar cambaleante e, nos estágios finais, pele azulada, sonolência, falha na visão e raciocínio irracional – , procure ajuda imediatamente, abrigue-se e coloque roupas secas e quentes.
· Em hipótese alguma consuma bebidas alcoólicas!
· Beba bebidas mornas ou ministre-a para vítimas apenas se elas estiverem conscientes.
· Mantenha-a acordada e aquecida dentro do saco de dormir – em hipótese alguma deixe-a caminhar...
· Não esqueça que hipotermia mata!
Exaustão pelo calor pode ser um problema no Brasil e em lugares muito quentes e secos, apesar do corpo normalmente ‘desistir’ de continuar muito antes do perigo real aparecer.
· Para minimizar os desconfortos, procure beber sempre muito líquido durante as caminhadas e atividades físicas.
· Sempre use protetores solares, chapéus e bonés.
· Preste atenção em dores de cabeça, náusea, tontura e pele fria e úmida.
· Procure uma sombra, esfrie um pouco, beba muito líquido fresco e fique atento a pele seca e febre.
· De novo, nada de bebidas alcoólicas.
Altitude – se você pretende fazer o Caminho Inca ou qualquer outro trekking em regiões com altitudes superiores a dois mil e quinhentos metros, poderá ter problemas com a falta de oxigênio. Acima desta altitude, aumenta a possibilidade de dores de cabeça.
· Preste atenção em sintomas como fadiga, dores de cabeça, náuseas e até a diminuição da coordenação motora.
· Na presença de qualquer destes sintomas, pare imediatamente!
· Se os sintomas incluem gagueira, irracionalidade e cambalear, não apenas páre como desça imediatamente – e rápido.
· mal de altitude pode matar, se se desenvolver para um edema pulmonar ou cerebral.
O Frio – informações e considerações
Cada um tem uma definição para a expressão ‘sentir frio’. A expressão é tão usada que pouco notamos o que ela realmente significa... Você saberia dizer alguma coisa sobre o frio? Metade da Terra e 1/10 dos oceanos são cobertos por neve e gelo durante boa parte do ano. O frio extremo pode ser encontrado em basicamente três lugares: nas grandes altitudes, nos pólos e no fundo do mar. Mas nem precisamos ir tão longe para sabermos que o frio mata. O corpo humano não foi feito para agüentar temperaturas muito baixas, apesar de alguns povos viverem em lugares muito frios, como a Sibéria, que enfrenta temperaturas de – 60o C no inverno, e o norte do Canadá. A temperatura mais baixa registrada no nosso planeta foi de – 89o C, na estação de pesquisa russa de Vostok, situada no Continente Antártico, em 1983.
Nas montanhas, para cada 100 m que subimos a temperatura cai 1o C. O cume do Everest costuma estar envolto por uma temperatura de – 40o C, além dos ventos, que reduzem consideravelmente este número. Isto chama-se ‘fator vento’ e existe uma fórmula que permite achar a temperatura ‘real’ a que estamos expostos, quando enfrentamos baixas temperaturas com ventos gélidos. O vento aumenta a taxa de perda de calor porque troca o ar aquecido em volta da gente por ar frio e nos faz perder todo o calor que acabamos de produzir. Isto significa que, em temperaturas muito baixas acrescidas de vento, podemos congelar partes expostas do nosso corpo em questão de segundos.
Assim, vale dizer que o ser humano suporta bem o frio se ele estiver bem alimentado, bem agasalhado e tiver um abrigo (como casa, cabana ou mesmo barraca). É a comida que vai fazê-lo produzir calor e, assim, se aquecer em condições extremas. É o agasalho adequado que não vai deixar este calor produzido ir embora. E é um abrigo que irá protegê-lo das piores condições e, principalmente, do vento enregelante. Condições extremas como a escalada de uma montanha com altitude superior a 5.000 metros consome, em média, 6.000 calorias por dia. O que significa que carregar comida suficiente para vários dias é muito difícil, ou seja, é comum perder peso em uma expedição e, assim, se expor aos efeitos do frio com mais facilidade. O resultado disso é a possibilidade de sofrer congelamento nas extremidades ou mesmo morrer.
E quanto você agüenta? Isso vai depender do tempo que você ficará exposto ao frio. Meros 25o C é a temperatura que os seres humanos nus começam a sentir frio, por exemplo. Se o ar estiver parado a – 29o C e a pessoa estiver bem agasalhada, ela corre poucos riscos. "Acrescente" um vento de 40 km/h e você terá uma temperatura equivalente a – 66o C, o que o faz congelar as partes expostas e/ou as extremidades de seu corpo em menos de 30 segundos! E por quê as extremidades sofrem tanto? É mera questão de sobrevivência... O corpo ‘escolhe’ o que vale mais a pena salvar, ou seja, ele concentra o envio de sangue e, conseqüentemente, de calor nas partes vitais (cabeça e tronco), sacrificando as extremidades. Por isso se diz que, quando temos frio nas mãos, devemos proteger a cabeça (e o pescoço)...! É por ali que se perde até 25% do calor produzido pelo corpo.
Superfícies metálicas são boas condutoras de calor. Nunca as toque com a mão desnuda se o frio for intenso, pois a pele grudará no metal e, ao tentar tirar, algo importante ficará para trás: pedaços de sua pele. A água também é excelente ‘ladra’ do calor do seu corpo – ainda mais que o metal. Por isso, duramos menos tempo na água. Com ela a 0o C um ser humano sobrevive apenas 90 segundos. Uma curiosidade: o mar antártico se congela a – 2o C, por causa de sua elevada concentração de sal, e os peixes que lá vivem possuem uma substância anticongelante. Mas nem precisamos ir tão longe... A 12o C já sentimos dificuldades nas nossas habilidades manuais e 8o C é a temperatura crítica para nossa sensibilidade ao toque. Com isso, é fácil entender as propriedades anestésicas do frio – usadas, inclusive, em complicadas operações.
Se a neve é bonita e legal para nós, brasileiros, que só a temos quando escolhemos passar férias em lugares nevados e frios (além de poucos lugares no sul e sudeste do País), ela pode ser um incômodo para quem vive em lugares extremos. A – 55o C, aviões não decolam, caminhões e carros não andam pois o combustível e os radiadores congelam, baterias não ligam, tecidos sintéticos rasgam, linhas de transmissão elétrica de metal se retesam e rompem, cortando o fornecimento de energia elétrica, e nem mesmo um termômetro a mercúrio serve para medir a temperatura, pois ele congela a – 39o C! O termômetro tem de ser a álcool...
Morrer de frio. Esta expressão é bastante comum em nossa língua, mas pode corresponder 100% à realidade. A nossa temperatura corporal é de 36-38o C. A hipotermia começa a ser definida quando a temperatura basal cai a cerca de 35o C. Hipotermia branda, apesar de não causar a morte, é bastante perigosa e pode ser de difícil detecção, já causando uma série de, digamos, distúrbios na pessoa, como calafrios, destreza manual reduzida, cansaço, afeta o julgamento e a pessoa pode ficar propensa a discutir, além de não cooperar com a sua própria recuperação. A hipotermia moderada vem associada a calafrios violentos, a coordenação muscular e as habilidades mentais são afetadas e é aqui que a pessoa pode simplesmente ‘se deixar morrer’, pois perde a capacidade de discernimento. Perdemos a consciência quando nosso corpo chega a 30o C. Na hipotermia profunda, tanto a respiração quanto os batimentos cardíacos podem acontecer ao ritmo de apenas um ou dois por minuto! O coração pára quando a temperatura chega a 20o C.
Não. Não se morre de frio apenas em lugares extremos. Pode-se morrer de frio nas ruas de São Paulo, por exemplo. Basta, para isso, que a pessoa esteja mal alimentada e mal agasalhada, como já foi falado. E, se você está em uma viagem, caminhada ou expedição e alguém começa a sofrer de hipotermia, o que fazer? Aquecê-lo com seu próprio corpo e o corpo de outras pessoas é uma solução. Se possível, colocá-lo em uma banheira com água morna (mas isso não funciona com uma vítima de hipotermia profunda) – no caso das extremidades, um balde com água morna e curativos nos locais que sofreram o congelamento. Nunca esfregue um tecido congelado! E procure, o quanto antes, um hospital – lembre-se que descongelar e recongelar pode ser muito pior que mantê-lo congelado até o devido atendimento médico. Mais importante que tudo isso: saia de casa programado e protegido – com roupas e comida suficiente para aquilo que se propôs a fazer.


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